Ressonância Cardíaca

Escrito por Dr. Denis Szejnfeld

Morfologia, Função, Perfusão e Viabilidade

Os primeiros aparelhos de ressonância magnética com aplicações diagnósticas surgiram na década de 80. Naquela ocasião, houve uma revolução no diagnóstico por imagem do crânio e das articulações. Isto porque a aquisição das imagens era demorada e qualquer movimentação do paciente produzia artefatos. “Ver” o coração batendo através da RM parecia apenas uma ambição irreal. A evolução tecnológica e desenvolvimento dos aparelhos vieram trazendo meios de se vencer os obstáculos da movimentação através de aquisições mais rápidas. A primeira área diretamente beneficiada foi a dos exames do abdome que começaram a ser feitos pois as imagens podiam ser obtidas durante o tempo de algumas apnéias.

Avaliação morfológica

Nesta ocasião, em meados da década de 90, surgiram os primeiros exames de RM cardíaca. A primeira aplicação da RM foi na caracterização de massas cardíacas e programação cirúrgica de tumores mediastinais. O detalhe anatômico oferecido pelas seqüências T1 e T2 e as características de impregnação pelo contraste propiciaram ao radiologista elaborar diagnósticos cada vez mais precisos acerca dos tumores cardíacos. Estas primeiras imagens mostravam o coração “parado” ou seja, eram imagens estáticas e não permitiam a análise da função (contratilidade) do miocárdio.

Avaliação funcional

Somente na última década que o desenvolvimento de sincronizadores cardíacos e seqüências ultra-rápidas possibilitaram a aquisição de imagens dinâmicas do coração. Estas seqüências adquirem múltiplas imagens nas diferentes fases do ciclo cardíaco. O monitor (trigger) colocado no paciente permite que o aparelho agrupe as imagens de maneira adequada e monte um clipe dinâmico mostrando a contração cardíaca.
Sem dúvida foi um grande avanço na área. Nesta ocasião, os exames de RM começaram a fornecer dados hemodinâmicos da função cardíaca como fração de ejeção, volumes sistólico, diastólico, massa de miocárdio etc. Neste contexto, a RM tornou-se uma importante aliada do ecocardiograma em casos de dúvida diagnóstica ou em pacientes com janela acústica inadequada.

Avaliação da viabilidade

No final da década de 90, Raymond Kim publicou um estudo fantástico demonstrando pela primeira vez que o miocárdio com fibrose ou necrose retêm o contraste por mais tempo que o miocárdio normal. Estas imagens são chamadas de realce tardio pois são adquiridas cerca de 5 a 10 minutos após a injeção do gadolínio. É aceito que as áreas com realce tardio necessariamente correspondem a miocárdio inviável e que o miocárdio inviável necessariamente apresenta realce tardio.
Ou seja, a RM permite identificar focos de fibrose com resolução espacial superior à da cintilografia. O conhecimento dos diferentes padrões de distribuição da fibrose permite ainda o diagnóstico diferencial entre doenças de depósito, degenerativas, infiltrativas e isquêmicas.

Avaliação da perfusão

A RM também permite um estudo da perfusão do miocárdio. Este é feito com a aquisição de múltiplos cortes (cerca de 3 ou 4) a cada batimento após a infusão de bolus de contraste. As imagens de perfusão são feitas com o paciente em repouso e em estresse farmacológico após infusão de dipiridamol ou dobutamina. Em virtude da alta resolução espacial da RM, com esta técnica é possível detectar pequenas áreas com déficit reversível da perfusão, ou seja, isquêmicas.

Utilizando estas técnicas, uma série de novas possibilidades foi aberta. Miocardiopatias (isquêmica, dilatada e hipertrófica), doenças de depósito e infiltrativas, mal-formações congênitas e tumores são exemplos de aplicações. Neste contexto, a RM cardíaca tem ocupado um espaço crescente no arsenal diagnóstico em cardiologia expandindo as fronteiras do diagnóstico por imagem e do radiologista.

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